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A Teoria da Subjetividade do singular ao universal

Abordar o tema subjetividade pressupõe um convite à subversão do seu significado e limites de compreensão, construídos até então, pelas ciências humanas e pelo senso comum.  A subjetividade foi compreendida inicialmente como as experiências individuais sentidas e vividas como únicas e originais, quase incomunicáveis e inacessíveis a outras experiências[i], ou seja, aquilo que é “íntimo”, “pessoal”, “o que não se acessa”, “interior”, “o que não é objetivo” ou ainda “é muito subjetivo para ser explicado”.


O seu estudo encontrava-se relacionada a questões filosóficas referentes à busca da origem dos seres, da existência, dos desejos, experiências, sentimentos, valores, sendo denominada de subjetividade privatizada, reflexo da visão predominante do pensamento liberal vigente no final do século XVIII. A subjetividade privatizada demarcava uma distinção entre os processos íntimos da alma (relacionados à essência do eu, à interioridade do pensamento) e os processos do corpo (sujeitos às mesmas leis físicas e orgânicas).


A crença na existência de um polo objetivo e um polo subjetivo, de um mundo interno e um mundo externo produz uma percepção dos sujeitos reconhecidos como seres únicos, singulares e individualizados sem relação, contudo, com o mundo real e objetivo, levando à compreensão destes, a partir de aspectos dicotômicos e muitas vezes incomunicáveis - objetividade/subjetividade, corpo/mente, razão/emoção, indivíduo/ sociedade, inclusão/exclusão. A concepção de subjetividade, movida pelo pensamento naturalista e positivista, incentivava ao desenvolvimento de ações controladoras e previsíveis do comportamento humano além de servir como suporte, ordenamento e regulação social.


Na obra intitulada Manuscrito Econômico Filosóficos, Marx [ii](2004) adverte que a relação entre os indivíduos e a sociedade deve ser pensada como uma relação entre o especial (particular) e o geral, onde o indivíduo é também ao mesmo tempo, um ser particular e uma totalidade. Ainda neste trabalho, Marx afirma que todos os órgãos de sua individualidade, bem como a forma de se relacionar com o mundo (ver, ouvir, cheirar, saborear, sentir, pensar, observar, desejar, atuar, amar) assim como os sentidos espirituais ou práticas (amar, atuar etc.) são imediatamente coletivos e resultante das condições concretas da vida em sociedade. Segue afirmando que a “essência humana” se constitui pelo conjunto das relações sociais mantidas, onde se tenta não somente interpretar o mundo, mas também transformá-lo através da prática social.


A Psicologia Social Pichoniana no esteio dessa compreensão, ratifica que o psiquismo se constitui na relação dialética dos sujeitos com a natureza, onde esta interação, ao mesmo tempo em que transforma a natureza, transforma também o próprio sujeito. Para tanto, propomos a ultrapassagem dos limites da compreensão biológica buscando a compreensão histórica e social dos homens. A subjetividade é, portanto, um campo socialmente construído, expresso nos diversos planos sobre os quais os sujeitos encontram-se inseridos e possíveis de serem ressignificadas e transformadas.

 

                                                                       Alessivânia Mota [1]


[1] Docente e coordenadora de grupos do CIEG – Texto extraído da Dissertação de Mestrado intitulada - Entre o discurso do projeto ético político e as condições concretas da prática: repercussões subjetivas na vivência dos assistentes sociais, Programa de Pós-Graduação em Psicologia – Universidade Federal da Bahia – 2011. Disponível em https://pospsi.ufba.br/sites/pospsi.ufba.br/files/alessivania_mota.pdf

 

                                                        


[i] Figueiredo & Santi (2003): Psicologia – Uma (nova) introdução. 2ª ed. Editora Escuta. São Paulo.

 

[ii] MARX, k.  Manuscritos Econômico Filosóficos – Ed. Boitempo – São Paulo.


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