top of page

TÉCNICA DOS GRUPOS OPERATIVOS

(Em elaboração com os doutores José Bleger, David Liberman e Edgardo Rolla)

A investigação social vem adquirindo grande importância nos últimos tempos, devido a multiplicidade de fatos incorporados a seu campo de estudo, assim como ao progresso de seus métodos e técnicas.

Os resultados obtidos, cada vez mais preciosos e concretos, vêm contribuindo decididamente tanto para o conhecimento da sociedade como para solução de problemas agudos. A tarefa mais ou menos explicita a que se propõe o psicólogo social, ao planejar e realizar cada investigação, pode ser definida como a tentativa de descobrir, entre outras coisas, certo tipo de interações que entorpecem o pleno desenvolvimento da existência humana. Porém isso representa só um aspecto de seus propósitos, pois toma também como objeto de pesquisa a descoberta dos fatores que favorecem o desenvolvimento mencionado.

O Psicólogo social, para poder operar com eficácia, necessita de uma ampla aprendizagem de seu ofício. É considerado, em seu meio, de duas maneiras bem opostas. Por um lado, é desvalorizado, enquanto por outro é desvalorizado em sua tarefa, com mesma intensidade. Essa situação condiciona tensões nele e entre ele e os grupos, já que a negação e a onisciência formam um conjunto difícil de ser manejado. O psicólogo social aborda questões fundamentais e, ao investigar a profundidade tanto indivíduos como grupos, deve evitar tanto condutas de fuga como se deixar influenciar pelas opiniões correntes em seu meio imediato. Por outro lado deve saber que está incluído, comprometido, no próprio terreno de suas investigações e que ao operar, produz de qualquer maneira um impacto determinado. A possibilidade de realizar o seu trabalho depende em grande parte de um clima particular, que pode ser preparado ou condicionado por meio de técnicas de planejamento, transformando essa situação no campo propício à investigação ativa, por meio de técnicas de Kurt Lewin chama de laboratório social.

O ponto de partida de nossas investigações sobre os grupos operativos, tal como os concebemos hoje, provém do que denominamos Experiência Rosário (Realizada em 1958). Essa experiência esteve a cargo do Instituto Argentino de Estudios Sociales (IADES) e foi planejada e dirigida por seu diretor, o doutor Enrique Pichon –Rivière. Contou-se com a colaboração da Faculdade de Ciências Econômicas, do Instituto de Estatística, da Faculdade de Filosofia e seu Departamento de Psicologia, da Faculdade de Medicina, etc.

Essa experiência de laboratório social, ou de trabalho em uma comunidade, efetivou-se mediante o emprego de certas técnicas e teve como propósito a aplicação de uma didática interdisciplinar, de caráter acumulativo, que utiliza métodos de investigação da ação ou investigação operativa.

O esquema que reproduzimos condensa graficamente todos os momentos da Experiência Rosário.

  1. Preparação da equipe de trabalho no IADES com técnicas grupais. A experiência foi planejada mediante a uma estratégia e uma prática operativa de caráter instrumental. Na cidade de Rosário, e em alguns lugares freqüentados por estudantes, foram colocados cartazes para fazer a publicidade da experiência.

  2. A operação propriamente dita surgiu os seguintes passos: 1)No auditório da Faculdade de Ciências Econômicas, o coordenador geral da operação falou sobre o significado da experiência, propondo alguns temas que foram elaborados posteriormente nos grupos. No auditório , estavam presentes professores, estudantes universitários (de ciências econômicas, psicologia, filosofia, diplomacia, medicina, engenharia, etc.) 2) Primeira sessão de grupos heterogêneos reunidos no final dessa exposição com uma média de nove membros por grupo, escolhidos ao acaso. Estes foram conduzidos por um coordenador, contando cada um com a presença de um ou dois observadores. O coordenador atuava como orientador, favorecendo a comunicação intragrupal e tentando evitar a discussão frontal. O Observador registrava tudo que acontecia no grupo através de um enfoque panorâmico. Essas sessões tiveram uma duração de quatro horas, funcionando um total de quinze grupos heterogêneos. 3) Reunião da equipe IADES com o coordenador geral, com o objetivo de controlar e analisar a tarefa realizada até esse momento, resumindo em particular o trabalho particular dos grupos. 4) Segunda sessão dos grupos heterogêneos, com os mesmos participantes. Tanto o coordenador como o observador já haviam analisando as tarefas da sessão anterior e enfrentavam o grupo com uma crescente capacidade de compreensão. 5) Nova reunião do grupo IADES com o coordenador geral, para controlar a segunda sessão dos grupos heterogêneos. 6) O doutor Pichon- Rivière volta a expor para o público, no auditório já citado, com assistência de um grupo maior de pessoas. O caráter deste passo da experiência evidência uma mudança radical em relação ao anterior : a assistência atuou, desta vez, como grupo, e não como público. A finalidade dessa reunião era trazer o material trabalhado por grupos e criar uma situação em espelho, na qual os membros se “reconhecem” como indivíduos separados e como integrantes dos grupos, através de diferentes temas emergentes. 7) Sessões de grupos homogêneos: funcionam, no total, cinco grupos de medicina psicossomática, três de psicologia, um de boxeadores, um de estatística, um de pintores, e um de corretores de seguros. 8) Terceira sessão de controle da equipe IADES com o coordenador geral. 9) Ultima exposição do doutor Pichon-Rivière, da qual participaram integrantes de grupos homogêneos e heterogêneos.

  3. Intervalo sobre a experiência e uma próxima a ser realizada. No Instituto de Estatística da Faculdade de Ciências Econômicas permanecem em funcionamento, como se fosse um departamento de relações públicas, uma secretaria que estabelece contato entre aqueles que desejam informações do IADES. Durante esse espaço de tempo, espera-se a formação de grupos. Vários já funcionam. Já existe um grupo formado por estudantes portenhos que estudavam em Rosário. Outro ficou integrado, naquela cidade disposto a trabalhar em enquetes sociais. Existem também outros, dispostos a operar diante dos problemas concretos referentes à comunidade rosarina (entre eles há estudantes de medicina, arquitetura e estatística e engenharia), no terreno das relações humanas, das relações industriais e do ensino.

Essa didática promovida por Pichon-Rivière é interdisciplinar, acumulativa, interdepartamental e de ensino orientado.

A didática interdisciplinar se baseia-se na preexistência, em cada um de nós, de um esquema referencial (conjunto de experiências, conhecimentos e afetos com os quais o individuo pensa e age) que adquire unidade através do trabalho em grupo; ela promove, por sua vez nesse grupo ou comunidade, um esquema referencial operativo sustentado pelo denominador comum dos esquemas prévios.

Uma das definições clássicas da didática é a de desenvolver atitudes e comunicar conhecimentos. Na didática interdisciplinar, cumprem-se funções de educar, de despertar interesse, de instruir e de transmitir conhecimentos, mas por meio de uma técnica que redunda em economia do trabalho e aprendizagem, visto que, ao se empregar o método acumulativo mencionado, a progressão não é aritmética, e sim geométrica.

A didática interdisciplinar propicia a criação de departamentos onde os estudantes das diferentes faculdades vão estudar determinadas matérias comuns ao seus estudos; ou seja, teríamos assim a conjugação dos diversos grupos de alunos em um mesmo espaço, criando inter-relações entre eles.

Essa orientação, com diferenças de intensidade, existe em alguns colégios e universidades estrangeiras que sentem a necessidade de fundamentar um ensino mais vocacional e sintético. Tomando esses elementos históricos de forma ordenada, podemos assinalar algumas etapas primordiais de seu desenvolvimento:

  • Departamento especializado.

  • Comitês de articulação interdepartamental e outros dispositivos de coordenação, que agrupam representantes de diferentes disciplinas.

  • Um coordenador ou encarregado de estabelecer ligações entre as diferentes disciplinas, tal como existe atualmente na escola de jornalismo da Iugoslávia: um método de ensino orientado no qual a articulação se revela muito fecunda, ao orientar em um sentido a tarefa específica de ensino de diversas disciplinas, como se aplica, por exemplo, na escola de ciências Políticas da Universidade de Princeton e em Ouro Preto (Brasil).

  • O método chamado interdisciplinar. No colégio mencionado acima também foram feitas tentativas, mas sem centrar o tempo o problema em torno de um determinado esquema referencial.

  • A didática interdisciplinar vem sendo o tema desta experiência de Rosário. Lá os departamentos citados funcionam sob a direção do professor da matéria, que se encarregaria de instruir sua equipe de chefes de trabalho ou monitores. Este, por sua vez, seriam os encarregados de transmitir o conhecimento concreto ao estudantes, tal como nós, os autores, fazemos na escola Privada de Psiquiatria do IADES (1959). Dessa forma, o professor tem condições de aperfeiçoar e investigar a matéria e seu cargo.

Em Rosário, empregou-se como estratégia a criação de uma situação de laboratório social; como tática, a grupal, e como técnica a de grupos de comunicação, discussão e tarefa.

Sabe-se que em sociologia é possível efetuar experimentos que podem, tão legitimamente quantos os fatos na física ou na química, ser classificados como científicos. E o chamado laboratório social é constituído pela reunião, numa mesma equipe de trabalho, de pessoas interessadas em trazer para a comunidade que as rodeia um certo número de modificações de atitudes , com base no estudo detalhado da situação e por meio de um programa de ação racionalmente concebido. O laboratório social não se limita , pois a uma breve sessão de trabalho durante a qual os participantes discutem em comum os projetos previstos. Geralmente, essa seção é a fase decisiva da organização do laboratório, no qual a ação e a investigação são reparáveis.

Assim sendo os grupos de discussão e tarefa, nos quais se estruturam mecanismos de auto regulação, são postos em funcionamento por um coordenador, cuja finalidade é obter, dentro do grupo , uma comunicação que se mantenha ativa, ou seja criadora. Esta compreende o estudo detalhado, em profundidade e no contexto global, de todos os aspectos de uma problema, com o objetivo de ajudar a solucioná-lo de forma eficaz. Surge essa definição – e isso realmente é o mais importante – a necessidade de trabalhar em grupos formados por integrantes de diversas especialidades (heterogêneos) relacionadas ao problema que será estudado. A investigação operativa pode oferecer sólidas bases a tomada de decisões , o que aumenta consideravelmente a eficácia. Seu método consiste, entre outras coisas, em observar os elementos comuns a certo tipo de problemas e analisar as possíveis soluções ; nos casos em que não se introduzem novos meios, ela busca a otimização daqueles que já existentes. O terreno onde mais frequentemente se tem utilizado a investigação operativa é o dos chamados problemas executivos, que surgem da necessidade de divisão, especialização e coordenação das tarefas comerciais e industriais. Outro terreno de aplicação preferencial – e no qual se iniciou organizadamente este tipo de estudo – é o da resolução de problemas de logística, tática e estratégia militar.

Nessas técnicas grupais, a função do coordenador ou “co-pensor” consiste essencialmente em criar, manter e fomentar a comunicação, chegando esta, através de um desenvolvimento progressivo, a tomar a forma de um espiral, na qual coincidem didática, aprendizagem, comunicação e operatividade.


  • A investigação da ação (action research), verdadeira investigação operativa, adota como tarefa o esclarecimento das operações que acontecem e têm vigência no âmbito do grupo. É assim que se obtém uma comunicação operante, um planejamento e uma estratégia que condicionam táticas e técnicas de decisão e de auto regulação.

  • Os sistemas referenciais correspondentes a esses grupos são investigados tanto em sua estrutura interna (análise intra-sistêmica) como em suas relações com os sistemas de outros grupos (análises Inter sistêmicas). Podem-se descobrir, entre outras coisas, sistemas fechados, estereotipados, assim como os sistemas abertos, ou com fechamentos transitórios, que podem, pelo grau de ansiedade neles presente, transforma-se em sistemas rígidos, que atuam como círculos viciosos. A tarefa essencial do coordenador é dinamizar, resolvendo discussões frontais que ocasionam frontais que ocasionam o fechamento do sistema, podendo valer-se do observador como observador participante em situações em que o fechamento ameaça toda operatividade do grupo.

Os grupos podem ser mais ou menos heterogêneos (por exemplo: estudantes de diferentes faculdades), ou mais ou menos homogêneos (estudantes de uma mesma faculdade); a experiência assinala a utilidade dos grupos heterogêneos em tarefas concretas em que, diante de uma máxima heterogeneidade dos componentes, pode-se obter uma máxima homogeneidade na tarefa. A eficiência do grupo pode ser medida através das variações quantitativas desses princípios.

  • Outro fenômeno observado, e que se transforma num vetor de interpretação, é que o pensamento que funciona no grupo vai desde o pensar vulgar ou comum até o pensamento científico, resolvendo as contradições aparentes e estabelecendo uma sequência ou continuidade genética e dinâmica entre um e outro. É tarefa importante do coordenador assinalar um ponto de partida falso, como é o de começar trabalhando com um pensamento científico não elaborado e sem ter analisado previamente “as fontes vulgares do esquema referencial”.

Uma problemática dialética serve de enquadramento geral; tende a investigar tanto o contexto da operação como as contradições que surgem em sua intimidade. Esse trabalho é complementado pela formulação de conceitos básicos e pela classificação sistemática do problema pertencentes a um domínio particular do conhecimento ou ao conjunto deste. Assim, impede-se a configuração da situação dilemática, base dos estereótipos de comportamento . Como principais emergentes aparecem a investigação de atitudes coletivas, de formas de reação mais ou menos fixas, de falta de flexibilidade, dos preconceitos e etc. O aprender a pensar , ou maiêutica grupal, constitui a atividade livre do grupo, que não deve ser regida pelas exclusões, mas pelas situações de complementaridade dialética (síntese). Isso implica estimular a formação da espiral.

  • A análise das ideologias é uma tarefa implícita na análise das atitudes e do esquema conceitual, referencial e operativo (ECRO), já mencionado.

As ideologias (Schilder) são sistemas de ideias e conotações de que os homens dispõem para melhor orientar sua ação. São pensamentos mais ou menos conscientes ou inconscientes, com grande carga emocional, considerados por seus portadores como resultado de um puro raciocínio, mas que frequentemente não diferem muito das crenças religiosas, com as quais compartilham um alto grau de evidência interna, em contraste com uma escassez de provas empíricas. As ideologias são um fator fundamental na organização da vida. Podem ser transmitidas de pais e professores para filhos de alunos por processos variados de identificação. Na maioria das vezes, o próprio sujeito ignora sua experiência; não estão explicitadas, mas são sempre operantes. A ideologia, tal como aparece em seu conteúdo manifesto, pode ser compreensível ou não; mas o que se faz necessário é analisar sua infra-estrutura inconsciente. As ideologias são formuladas em palavras; portanto, a análise das palavras ou da linguagem, análise semântico-semantística, constitui, além da análise sistêmica, uma parte fundamental na investigação das ideologias. Estas não costumam formar um núcleo coerente, e até pelo contrário, via de regra, coexistem várias ideologias de sinal contrário, que determinam diferentes graus de ambigüidade (índice de ambigüidade). Essa ambigüidade manifesta-se sob a forma de contradição, e é por isso que a análise sistêmica das contradições (análise dialética) constitui uma tarefa essencial no grupo. O grupo deve configurar um esquema conceitual, referencial e operativo de caráter dialético, no qual as principais contradições que se referem ao campo de trabalho devem ser resolvidas durante a própria tarefa de grupo. Todo ato de conhecimento enriquece o esquema conceitual, referencial e operativo , que realimenta e se mantém flexível ou plástico (não estereotipado). Esse aspecto é observado através de processos de ratificação de condutas ou de retificação de atitudes estereotipadas (ou distorcidas), mantidas em vigências como guardiãs de determinadas ideologias ou instruções. Ao funcionar de maneira mais ou menos inconsciente, essas ideologias constituem barreiras que impedem a irrupção de soluções novas (soluções estas que aparecem sob a forma de emergentes com características de descobertas ou investigações).

  • Grupo e práxis. Teoria e prática integram-se numa práxis concreta, que adquire seu força operativa no próprio campo de trabalho, na forma de ganhos determinados que seguem uma espiral dialética. O esquema conceitual, referencial e operativo transforma-se assim no instrumento de trabalho de cada individuo em sua interação grupal orientada.

  • Grupos de referência. A análise das relações entre o intragrupo e o extragrupo revela que nem sempre essas relações são de caráter antagônico. Quando um grupo muda sua atitude em relação a outros grupos- torna-se amistoso por exemplo -, esse grupo pode tomar tais grupos como quadro de referência para comparar suas próprias situações internas; o extragrupo atua então em relação ao primeiro grupo como referência. As semelhanças resultantes podem ser compreendidas como uma espécie de emulação e tem como base complicados processos de identificação. Entre outras coisas, isso se manifesta como expressões de desejos de ingressar no grupo de referencia que foi tomado como modelo.

  • Teoria da aprendizagem e comunicação. O individuo ou grupo expressam-se tanto na maneira de formular seus problemas como no próprio conteúdo do discurso. Podemos dizer que a comunicação é um contexto que inclui um mundo de sinais que todos que se intercomunicam sabem codificar e decodificar da mesma maneira. Assim também podemos definir o esquema conceitual, referencial e operativo em termos de comunicação e informação: ao assinalar que esses processos de codificação e decodificação de sinais pertencem a esquemas referenciais individuais e dos grupos, através dos quais se tornam possível, de acordo com o funcionamento e a estrutura desses esquemas, configurar situações de entendimento e mal-entendido. Em ultima instância, a comunicação grupal é possível pela existência de um esquema conceitual, referencial e operativo de caráter grupal. Durante o desenvolvimento da criança, é possível observar a passagem de uma linguagem autista a uma linguagem social, na medida em que essa comunicação é capaz de condicionar relações sociais operantes. No grupo, essa comunicação tende, naturalmente, a tomar o curso de uma espiral dialética, que coincide (ou em todo caso é paralela) com o curso que segue a aprendizagem. Ambos os processos, tal como revelam nossas investigações, são consistentes e cooperantes, e a inter-relação dinâmica permanente se estabelece entre elas desde o começo. Exemplificando, podemos dizer que a aprendizagem segue o trilho da comunicação e vice-versa.

  • Estudo das constantes e variáveis como vetor de interpretação. As variáveis podem ser a estabilidade relativa, a imposição, a recorrência, a consciência ou a sanção do grupo ou da sociedade. Reconhecê-las como qualidades torna possível uma investigação e uma verificação posterior mais precisas.

Podem ser as qualidades mais importantes para a definição do caráter de um grupo determinado, num lugar e num momento dados. O desenvolvimento de um conjunto adequado de sequencias para a mensuração das variáveis grupais contribuirá para o estudo objetivo do grupo, tanto quanto outros métodos.

  • Unidade do aprender e do ensinar. Ensinar e aprender operam dentro de um mesmo quadro de trabalho. Formam uma estrutura funcional e só ao serem assim considerados é que podem se organizar e adquirir um caráter operativo e uma vigência que determinem a forma e a função instrumental de uma estrutura dinâmica. O esquema referencial que serve para o enquadramento e favorece a emergência dessa estrutura funcional inclui, entre outros elementos, também o esquema referencial da matéria envolvida com a qual se está trabalhando em cada uma dessas unidades, e que contém algo que é desconhecido ou pouco conhecido até então para o grupo.

É nesse campo que se deve investigar a função dessa unidade do aprender e do ensinar, o que implica, por sua vez, uma série de operações. Economizar trabalho nessa investigação é um dos principais propósitos de uma boa didática e de uma boa aprendizagem operante, sendo parte importante da tarefa a investigação dos métodos (diretos e indiretos) correspondentes a essas unidades complexas e as vezes paradoxais. Podem se descrever (Johnson) cinco etapas ou momentos da operação: a) existência de um estado de dúvida causado pelo problema apresentado; b) estado de tensão ou ação bloqueada; c) emergência subseqüente de um problema; d)formulação de uma hipótese; vicissitudes das provas, escolha da mais apropriada, e e) como conseqüência do manejo de tal hipótese, chega-se à formulação de um conceito que deve representar a forma e o conteúdo mais adequado da resolução da dúvida anterior, numa situação enquadrada no “ aqui, agora e comigo”.

Devemos identificar basicamente o ato de ensinar e aprender com o ato de inquirir, indagar ou investigar, e caracterizar a unidade “ensinar e aprender” como uma continua e dialética experiência de aprendizagem em espiral, na qual, num clima de plena interação, descobrem, ou redescobre, aprendem e “se ensinam”.

  • Para Kurt Lewin, os problemas de decisão de grupo são essenciais para considerar muitas questões básicas, tanto na psicologia social como na individual. Esse problema se vincula com a relação existente entre a motivação e a ação consequente, e com o feito que a estrutura grupal tem sobre a disposição do indivíduo para modificar ou conservar certas linhas de comportamento. Kurt Lewin relaciona também este problema com um aspecto fundamental da determinação da ação humana: como modificar a conduta de um grupo uma situação de mudança para que ela não recaia, em pouco tempo, na linha anterior já superada. A decisão do grupo é um problema de condução social (ou também de auto condução do grupo) e relaciona-se principalmente com as articulações existentes entre as motivações (motivos mais ansiedades) e ação individual ou grupal. O efeito de decisão do grupo deve ser compreendido no enquadramento integrado pela teoria dos equilíbrios sociais e na teoria dos hábitos sociais, na resistência a mudança e nos diversos problemas de descongelamento, mudança e congelamento de níveis sociais.


Conclusões Podemos resumir as finalidades e propósitos dos grupos operativos dizendo que a atividade está centrada na mobilização de estruturas estereotipadas, nas dificuldades de aprendizagem e comunicação, devidas a montante de ansiedade despertada por toda mudança ( ansiedade depressiva por abandono do vínculo anterior e ansiedade paranoide criada pelo vínculo novo e pela insegurança). Essas duas ansiedades são coexistentes e cooperantes e, se forem intensas, poderão conseguir o fechamento do sistema (circulo vicioso).

Os papéis tendem a serem fixos no começo, até que se configure a situação de lideranças funcionais, ou seja, lideranças operativas que se fazem mais eficazes em cada “aqui e agora” da tarefa.

Os grupos podem ser verticais, horizontais, homogêneos ou heterogêneos, primários ou secundários, porém em todos se observa uma diferenciação progressiva ( heterogeneidade adquirida) à medida que aumenta a homogeneidade na tarefa. Essa tarefa depende do campo operativo do grupo. Quando se trata de um grupo terapêutico, a tarefa é resolver o denominador comum da ansiedade do grupo, que adquire em cada membro características particulares. É a cura da enfermidade do grupo. Se for um grupo de aprendizagem de psiquiatria, por exemplo, a tarefa consiste na resolução das ansiedades ligadas a aprendizagem dessa disciplina e na facilitação para assimilar uma informação operativa em cada caso. Em geral, diríamos o mesmo de grupos industriais, de grupos cujo a tarefa é a compreensão da arte, de equipes esportivas (como uma equipe de futebol), etc.

O propósito geral é o esclarecimento, em termos das ansiedades básicas, da aprendizagem, da comunicação do esquema referencial, da semântica, das decisões, etc. Dessa maneira, a aprendizagem, a comunicação, o esclarecimento e a resolução de tarefas coincidem com a cura. Criou-se um novo esquema referencial. O Coordenador, com sua técnica, favorece o vínculo entre o grupo e o campo de sua tarefa, numa situação triangular. O vínculo transferencial deve ser compreendido neste último contexto.

A aplicação desta técnica a grupos primários (família, por exemplo), cuja a tarefa é curar alguns dos seus membros, oferece o exemplo mais significativo. A família organiza-se, ou melhor, reorganiza-se, pouco a pouco, com as características de um grupo operativo, contra a ansiedade do grupo açambarcada por seu porta-voz (o doente). Os papéis distribuem-se, adquirem características de lideranças funcionais; diminuem progressivamente os mecanismos de segregação que alienam o paciente; a ansiedade é redistribuída e cada um se torna o encarregado de uma determinada quantidade dela. Assim, o grupo familiar transforma-se numa empresa, e o negócio que realiza é a cura da ansiedade do grupo através de um de seus membros. A inveja intra e intergrupal diminui, observando-se como mudança de bom prognóstico o aparecimento de reações de gratidão em ambos os campos. Resumo

A teoria dos grupos operativos fundamenta-se seguindo as ideias de Pichon- Rivière. O esquema ou quadro conceitual (referencial e operativo) inclui, além da concepção geral dos grupos restritos, ideias sobre a teoria do campo, a tarefa, o esclarecimento, a aprendizagem, a investigação operativa a ambigüidade, a decisão, a vocação, as técnicas interdisciplinares e acumulativas, a comunicação e os desenvolvimentos dialéticos em espiral. Outros conceitos referem-se à estratégia, tática e técnica, assim como à horizontalidade e à verticalidade, descobertas de universais, tempestade de ideias (brain-storming), etc.

Em certa medida, essas ideias inspiram-se nas técnicas dos comandos; mas seu verdadeiro nascimento e desenvolvimento tem inicio depois do que denominamos Experiência Rosário, uma investigação de caráter interdisciplinar e acumulativo que foi realizada por membros do Instituto Argentino de Estudios Sociales (IADES) sobre uma comunidade heterogênea dessa cidade. Os resultados tiveram uma influência decisiva tanto sobre a teoria como sobre a prática dos grupos operativos aplicados à didática (ensino da psiquiatria, compreensão da arte, etc.) à empresa, à terapêutica (grupos familiares), à publicidade, etc. A técnica desses grupos está centrada na tarefa, na qual teoria e prática se resolvem numa práxis permanente e concreta no “aqui e agora” de cada campo assinalado.

As finalidades e propósitos dos grupos operativos podem ser resumidos dizendo-se que sua atividade está centrada na mobilização de estruturas estereotipadas por causa do montante de ansiedade despertada por toda mudança (ansiedade depressiva pelo abandono do vínculo anterior e ansiedade paranóide criada pelo vínculo novo e pela consequente insegurança). No grupo operativo, o esclarecimento, a comunicação, a aprendizagem e a resolução de tarefas coincidem com a cura, criando-se assim um novo esquema referencial.

Do livro O Processo Grupal, Ed. Martins Fontes, São Paulo.

4 de maio de 2021 ENRIQUE PICHON-RIVIÈRE

0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

A DESCOBERTA DO OUTRO

ARTIGO SOBRE VÍNCULO TRADUZIDO PELO CIEG Na complexa engrenagem da vida em sociedade, dois sentimentos espontâneos, quase imanejáveis –...

Comentarios


bottom of page